segunda-feira, 4 de maio de 2015

Cotidiano em sentido horário

Pulou da cama, já atrasado para o trabalho, e correu para tomar um banho – banho, não – jogou rapidamente uma água no corpo. Retornou ao quarto e escolheu a roupa que o acompanharia pelo resto do dia. Como um vulto passou pela sala, entrou na cozinha e comeu o que tinha de pronto na geladeira. Saiu pela porta e, com a pressa que já estava minutos adiantada, quase que não esperou o portão abrir para batê-lo contra o batente de novo.

Correu para o ponto de ônibus e pegou o primeiro com destino à estação de trem mais próxima. Dividiu o espaço, que ali não tinha, com a multidão companheira pelos próximos 20 minutos. Olhava para o relógio que cercava seu pulso direito na tentativa de atrasar o tempo. Chega ao seu primeiro destino, a estação, e disputa cada passo com os demais – ganha quem chegar mais próximo da linha amarela  que põe fim à plataforma, em menor tempo. Pisar na linha é como ganhar alguns segundos de bônus, como naquele famoso joguinho de doces do celular.

A próxima batalha é enfrentar o enlatado de gente que vem no próximo trem. Como um verdadeiro contorcionista, precisa se moldar junto aos milhares de corpos e ainda se preocupar com “o espaço entre o trem e a plataforma”, além de “não impedir o fechamento das portas”. Longe do fim e com o dia apenas começando, seu próximo objetivo é sair dali quando chegar em seu destino e antes que as portas voltem a se fechar. Como um genuíno desbravador, ele consegue. Os ponteiros do relógio recusam o apelo do olhar esperançoso e cumpre, segundo a segundo, o seu dever.

Ele corre pelas escadas rolantes e procura a saída mais próxima. Aperta o passo nos próximos cinco minutos, que seriam dez de caminhada. Entra no escritório, cumprimenta os colegas, sinaliza sua chegada ao chefe e, ainda com a respiração ofegante, baixa os e-mails do dia na caixa de entrada. Na hora do almoço procura o restaurante que vai lhe servir mais rapidamente (Ele tem de voltar o mais rápido possível ao seu posto). Volta e termina sua jornada.

Caminha até o trem, se contorce entre os demais, se atenta com vão entre o trem e a plataforma e não impede o fechamento das portas. Se dirige até o ponto de ônibus, sobe naquele que o levará até sua casa, divide espaço com a multidão companheira do segundo turno e, finalmente chega em sua casa. Come o resto do que ainda sobrou de pronto na geladeira, passa pela sala, vai até o quarto e se despede da roupa que o acompanhou ao longo de mais um dia. Entra no banheiro e toma, agora sim, um banho. Pula na cama e tenta dormir. Vira, revira, “desvira” e o sono não vem. Passa a pensar nas milhares de coisas que precisa fazer no dia seguinte. O relógio, que age implacavelmente, desperta avisando um novo dia.


Pula da cama... e a rotina se repete em sentido horário.

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