Pulou da
cama, já atrasado para o trabalho, e correu para tomar um banho – banho, não –
jogou rapidamente uma água no corpo. Retornou ao quarto e escolheu a roupa que o acompanharia pelo resto do dia. Como um vulto passou pela sala,
entrou na cozinha e comeu o que tinha de pronto na geladeira. Saiu pela porta
e, com a pressa que já estava minutos adiantada, quase que não esperou o portão
abrir para batê-lo contra o batente de novo.
Correu para
o ponto de ônibus e pegou o primeiro com destino à estação de trem mais
próxima. Dividiu o espaço, que ali não tinha, com a multidão companheira pelos
próximos 20 minutos. Olhava para o relógio que cercava seu pulso direito na
tentativa de atrasar o tempo. Chega ao seu primeiro destino, a estação, e
disputa cada passo com os demais – ganha quem chegar mais próximo da linha amarela que põe fim à plataforma, em menor tempo. Pisar na linha é como ganhar alguns
segundos de bônus, como naquele famoso joguinho de doces do celular.
A próxima batalha
é enfrentar o enlatado de gente que vem no próximo trem. Como um verdadeiro contorcionista,
precisa se moldar junto aos milhares de corpos e ainda se preocupar com “o
espaço entre o trem e a plataforma”, além de “não impedir o fechamento das
portas”. Longe do fim e com o dia apenas começando, seu próximo objetivo é sair
dali quando chegar em seu destino e antes que as portas voltem a se fechar.
Como um genuíno desbravador, ele consegue. Os ponteiros do relógio recusam o
apelo do olhar esperançoso e cumpre, segundo a segundo, o seu dever.
Ele corre pelas
escadas rolantes e procura a saída mais próxima. Aperta o passo nos próximos cinco
minutos, que seriam dez de caminhada. Entra no escritório, cumprimenta os
colegas, sinaliza sua chegada ao chefe e, ainda com a respiração ofegante,
baixa os e-mails do dia na caixa de entrada. Na hora do almoço procura o
restaurante que vai lhe servir mais rapidamente (Ele tem de voltar o mais rápido
possível ao seu posto). Volta e termina sua jornada.
Caminha até
o trem, se contorce entre os demais, se atenta com vão entre o trem e a
plataforma e não impede o fechamento das portas. Se dirige até o ponto de ônibus,
sobe naquele que o levará até sua casa, divide espaço com a multidão companheira
do segundo turno e, finalmente chega em sua casa. Come o resto do que ainda sobrou
de pronto na geladeira, passa pela sala, vai até o quarto e se despede da roupa
que o acompanhou ao longo de mais um dia. Entra no banheiro e toma, agora sim,
um banho. Pula na cama e tenta dormir. Vira, revira, “desvira” e o sono não
vem. Passa a pensar nas milhares de coisas que precisa fazer no dia seguinte. O
relógio, que age implacavelmente, desperta avisando um novo dia.
Pula da
cama... e a rotina se repete em sentido horário.
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