Naquele dia
acordei às 08h20, assim como fiz rigorosamente durante os últimos 10 anos. Caminhei
pelo apartamento silencioso, me dirigi até a cozinha e fervi a água para o
café. Encostei-me de costas na pia enquanto aguardava. Ouço o telefone tocar
e corro em direção à sala para atender. Do outro lado, uma voz feminina pergunta
meu nome. Respondi. Por alguns segundos a ligação fica muda. Novamente perguntei
seu nome e, antes mesmo que ouvisse qualquer resposta, ouço um
choro. Tentei acalmá-la, mesmo sem qualquer recurso. A ligação cai.
Ainda sem
entender o que tinha acontecido, voltei à cozinha. Continuei meu rito matinal e
preparei meu café. Antes mesmo do primeiro gole, o telefone volta a tocar. Confesso
que pensei em não atender, mas algo me dizia que a reação de choro daquela mulher
se deu após a revelação de meu nome. Segundos de indecisão... atendi.
E antes
mesmo de eu pronunciar o tradicional “Alô!”, a mulher, com a voz embargada, se
identificou. Desta vez, eu é quem ficou mudo. Em minha cabeça, milhões de
pensamentos por segundo. Eu mal sabia que aquela ligação viria para por um ponto final em minha
rotina de 10 anos.
Clara, a mulher que me ligava às 08h25 daquele sábado, anunciava
sua chegada ao Brasil. Mais do que isso, anunciava que os meus últimos 15 anos seriam os mais felizes da minha vida até aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário