“O que ele estava fazendo a essa hora na rua?”, esbravejou. “Tem mais é que morrer mesmo!, sentenciou o homem de meia idade durante uma discussão com sua companheira a respeito de um tiroteio que acabara de acontecer perto de sua residência. Contrariada, Márcia bem que tentou argumentar. Sem sucesso.
O homem, que já não aguentava tanta violência, continuou a disparar insultos sobre o caso que sequer presenciou. Banalizou de tal maneira a vida que, para ele, a morte por meios duvidosos havia se tornado normal.
Foi até o portão para saber se ainda havia movimento na rua e deu de cara com o breu da avenida sem iluminação. Regressou, passou no quarto, pegou a toalha e foi tomar seu merecido banho. Não antes sem resmungar pela última vez. “Perdi muito tempo falando de vagabundo. Vou tomar meu banho que amanhã eu pego cedo no trabalho”.
Foi até o portão para saber se ainda havia movimento na rua e deu de cara com o breu da avenida sem iluminação. Regressou, passou no quarto, pegou a toalha e foi tomar seu merecido banho. Não antes sem resmungar pela última vez. “Perdi muito tempo falando de vagabundo. Vou tomar meu banho que amanhã eu pego cedo no trabalho”.
O relógio na parede da cozinha apontava 25 pra onze, quando seu telefone toca. Ele atende a ligação de um número desconhecido. “Tudo bem, estou indo aí”. Dirige-se ao quarto, coloca uma bermuda, uma camiseta e calça seu tênis. Se empossa da carteira e sai apressado. “Marcia, vou à casa de minha mãe e já volto!”. E sai em rompante colocando o portão contra o batente em velocidade atroz.
Horas depois sem saber notícias, Márcia tenta, sem sucesso, ligar para seu marido. O telefone até dá sinal do outro lado, mas a ligação finda na caixa postal. Márcia, então, se dirige ao quarto, coloca um shorts, uma camiseta e calça seu tênis. Se empossa da bolsa e sai apressada em direção à casa da sogra.
Ao se aproximar do seu destino, a mulher percebe uma movimentação maior do que o normal para aquele horário - já passava das duas. Pessoas reunidas e, ao que deu pra contar, seis viaturas da polícia.
Aperta o passo.
Saiu desviando das pessoas como quem está perdida em uma mata fechada. Já próxima ao local reconhece o marido pelo tênis sujo e já gasto.
Coração pulsa mais forte.
Já com a respiração oscilante, influenciada pela adrenalina, a mulher se desespera ao ver seu companheiro deitado de bruços na calçada. Pior, Marcia se dá conta que está presenciando um velório a céu aberto. Lucas, seu cunhado de 18 anos, foi confundido com um traficante e levo 4 tiros de um policial "desavisado".
Sérgio, companheiro de Marcia, por sua vez, chora a morte do “vagabundo” que chegava tarde em casa depois de ter pegado cedo no trabalho.
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