sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Encontro perdido

Dia desses, enquanto voltava para casa após um longo dia de trabalho, avistei a uns 300 metros a mulher que anos atrás havia mudado minha  vida para sempre. Quando me dei a certeza de que se tratava mesmo dela e que há tempos não via, minhas pernas tremeram, minhas mãos suaram e meu rosto ficou na mesma coloração de um flamingo. Mesmo assim resolvi seguir meu caminho que era, inevitavelmente, em sua direção.

Quando estávamos a pouco mais de 50 metros de distância um do outro, ajustei minha camisa, centralizei meu cinto e dei o último "tapa" no cabelo. Aquela altura eu já ensaiava minhas primeiras palavras, pensava num assunto, sem temer qual seria sua reação. Estávamos bem mais próximos, eis que ouço seu telefone tocar. Antes mesmo que eu pensasse em qualquer coisa, ela tende seu telefone com um sonoro – OI, AMOR! Como você está?

Fiquei sem reação, mas agradeci aos deuses por ter colocado uma banca de jornal naquela mesma calçada e bem ao meu lado. Ela, ao atender ao telefone, encostou na parede bem próximo à bendita banca de jornal (Aleluia!) e continuou sua conversa. Enquanto isso eu folheava uma revista qualquer. Não preciso dizer que minha concentração na leitura era zero. Evitei provocar o mínimo de som para que pudesse prestar atenção apenas naquela conversa, que seria um divisor para minha estratégia de provocar ou não aquele encontro “inesperado”. E foi.

Escutei atentamente, na tentativa de desvendar quem era aquele interlocutor inconveniente do outro lado da linha. O dono da banca, que me olhava com os cantos dos olhos, já desconfiava que eu não estava ali para comprar nada, principalmente aquela revista que eu fingia ler enquanto ouvia aquela conversa.

Percebi que ela sorria enquanto ouvia aquele patético interlocutor falar. A medida que me enchia de coragem para provocar de vez aquele encontro e também acabar com a inoportuna ligação, percebi que ela estava mais envolvida no assunto com aquele desprezível ser.

Tomei uma decisão. Sair da banca de jornal e ir direto ao seu encontro. Estava decidido a ficar plantado em sua frente e acabar logo com aquilo. Porém, ao dar o primeiro passo fora da banca... – Senhor, a revista senhor! Eu que já estava absolutamente consternado, desejei me enfiar debaixo da prateleira de jornal. Pedi desculpas e tirei algumas notas do bolso, paguei.

Após pagar por uma revista que eu jamais iria ler, voltei ao meu plano original. Criei coragem e enchi os pulmões de ar. Fechei os olhos e fui em sua direção. Segundos depois de voltar a abrir meus olhos, enxerguei apenas uma parede. Ela, a mulher que havia mudado minha vida para sempre, como num passe de mágica, sumiu. Olhei para o outro lado da rua, olhei para os lados, girei meu corpo em 360° e nada. Perplexidade define aquele momento. Como aquilo pôde acontecer? Num estalar dos dedos eu perdi aquilo que outrora foi minha maior esperança: um encontro com ela. A chance de falar tudo que sentia por foi para o espaço. Perdi. A perdi de vista, perdi o time e perdi dinheiro (o da revista!). Acabei também me perdendo no tempo e não me dei conta que já passava das 20h.

Fui embora, como era de se esperar, perdido...

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