Passava
das dez da noite e eu aguardava. Decidi permanecer por mais alguns minutos. Fiquei
impaciente à medida que o tempo corria, mas a realidade é que eu não tinha muitas
alternativas: desistir ou continuar eram minhas únicas opções. Sentei à beira
do meio-fio, cruzei as pernas e inclinei meu corpo para trás apoiando as mãos
na calçada. Levantei-me.
Mexi
nos bolsos da minha calça jeans e peguei o maço de cigarros.
Acendi um cigarro e, na tentativa de pensar em algo, me distraí com a fumaça que
saia da minha boca. Entre um trago e outro quis abrir mão de tudo aquilo. Mas a
angústia de um possível arrependimento me fazia negar qualquer decisão. Voltei
a procurar algo, desta vez dentro de minha mochila. Encontrei um
livro velho do Neruda, comprado há pouco num sebo. Voltei a me sentar.
Consegui
me atentar, apenas por algum tempo, nos versos do escritor, mas a ansiedade, que me tomava inteiro, me chamou de volta à realidade. Por trás de mim algumas pessoas transitavam
sem dar atenção aquele sujeito apreensivo. Acendi outro cigarro e,
de repente, cheguei a triste e difícil conclusão de que Helena, minha namoradinha do colégio, jamais
voltaria à casa que se mudara há 12 anos. Parti.
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