quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Encontro nada casual


Apontou na rua uma mulher alta e muito bem vestida. Tinha os cabelos louros e trajava uma roupa de grife. Seus sapatos brilhavam com o reflexo do sol. Andava em passos serenos – aparentava decisão. Um detalhe chamava a atenção: uma mancha em sua manga direita da camisa. A medida que se aproximava, toca seu telefone. Ele, em tom de revolta, atende. Fala meia dúzias de palavras e desliga.

Dois homens, que passavam por ela, dispararam alguns elogios, mas a mulher, com o cenho intacto, passou à prova. Todos na rua assistiam aquela cena e notaram, assim como eu, que a ‘dona’ não estava em seu melhor dia. A princípio, fiquei curioso em saber do que se tratava aquele olhar fechado. Uma senhora, que estava sentada em um banco de cimento – frente sua casa, ofereceu algo, que foi imediatamente negado.

Senti, então, uma necessidade absurda de pará-la, mas fui segurado pela insegurança. Para minha surpresa, ela veio em minha direção. Me perguntou se eu tinha o telefone de algum táxi. Respondi negativamente e fui surpreendido por uma mulher que começou a chorar. O desespero me assumiu. Sem qualquer alternativa, só me restou oferecer ajuda.

Passado alguns minutos e a mulher um pouco mais calma, perguntei sobre o que causava aquela situação – sem êxito. Seu choro me comovia e tinha ar de decepção. Longos minutos e a mulher levantou a cabeça e me disse que acabará de perder seu pai – única pessoa com quem partilhava companhia. Fui tomado por um golpe que, no dito popular, “Foi de cortar o coração”. Me senti impotente por não colaborar em nada.

Por sua iniciativa, a moça relembrou momentos que passará com eu progenitor. Fiz o que todos fariam em meu lugar – “Calma, vai passar!” – “Ele está num lugar seguro, pode apostar!”. Emiti palavras que não consolariam a ninguém, mas eram as minhas armas naquele momento. Em seguida ela se apresentou, nos apresentamos, então. Me agradeceu pela atenção estabanada que propus.


Ofereci um café, que foi aceito. Fomos a uma cafeteria próximo dali e, enfim, assisti um sorriso. A linda mulher (era realmente linda) me confidenciou sobre sua vida, trocamos confidências, então. Por ali ficamos quase duas horas e ela teve que tomar um rumo. Foi embora, me deixou seu telefone, me beijou no rosto e desapareceu. E foi assim que conheci Lorena, hoje mãe de meus dois filhos.

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