terça-feira, 29 de abril de 2008

Pela Janela (Parte II)

Depois de certo tempo retomei a coragem de espiar novamente aquela janela, que outrora me revelara um feito estranho. Cheguei próximo e ainda com os olhos fechados (bem fechados) respirei fundo, quase desistindo, assumi minha ansiedade e fui abrindo vagarosamente meus olhos. Pela demasia da força demorei a ver algo que não fosse uma escuridão súbita. Aos poucos fui enxergando a minha frente um horizonte vazio. A rua, que há tempos foi cenário de uma situação tensa, hoje retrata uma calmaria insignificante. Meu semblante reproduzia piamente minha decepção. Como se eu tivesse perdido o tempo que passou, como se eu não tivesse vivido os dias passados. Resolvi ir mais longe. Inclinei meu tronco à fronte e lentamente passei a volver minha cabeça ora a direita, ora a esquerda. Avistei subindo a rua, uma pessoa –, estava longe e eu não consegui defini-lo – homem ou mulher? Quanto mais se aproximava, mais eu fixava meus olhos. Fui, então, percebendo que se tratava de um homem. Instantaneamente os calafrios voltaram a surgir me remetendo, inevitavelmente ao passado recente. O semblante do tal homem aos poucos passou a se definir - não me era estranho, o que me deixou mais pavoroso. Eu não estava disposto a enfrentar tudo aquilo novamente. Contudo, não me senti a vontade em abandonar aquela situação. Eu precisava tirar minhas dúvidas. Saber se eu realmente testemunhei uma tragédia anterior. E à medida que foi se aproximando, o homem me levou a afirmar que definitivamente eu não estava a ver bem as coisas.

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