terça-feira, 20 de julho de 2010

Honra!

Fazia tempo que o menino, vestido com uma camiseta e bermuda esfolados, calçado de um tênis quase sem sola, estava sentado sob um banco em uma praça que podia ser considerada sua casa. Visivelmente sujo, o garoto parecia pensar no que iria fazer no próximo minuto de sua vida. Tomou coragem e ajeitou seu corpo de modo que seu queixo apoiasse nos joelhos arranhados pelo tratamento duro das ruas.

Esboçava, além da tristeza, uma feição de incredulidade. O tempo já não era seu amigo há anos. Passou a reparar nas pessoas e no modo como elas passavam por ele. Percebeu que o pedaço de madeira, ao lado do banco que sentara, era mais notável. Foi quando um homem de cabelos grisalhos o tirou do meio da calçada.

O menino devia ter pouco mais de oito anos. Os cabelos encaracolados e num tom acinzentado, de tanta sujeira, as vezes eram tocados. Pela sua própria mão, claro. Em seu olhar baixo, a esperança não lhe fazia companhia. Sua maior vontade naquele momento era a de acabar com a fome que corroía seu estômago. Indefeso, tentou buscar a única alternativa que restava, dormir.

Enquanto isso, um senhor de barba foi em sua direção. Parou por alguns minutos e observou aquele ser de um metro e meio. Tentou chamar sua atenção manifestando um som característico: - Ei! Psiu! O garoto abriu os olhos e o enxergou. O homem, por sua vez, lhe estendeu a mão e perguntou se gostaria de comer alguma coisa. O jovem sinalizou que sim e ambos foram a uma lanchonete próxima.

Após a refeição, talvez a primeira do menino há dias, o senhor questionou sobre o fato de ele estar nas ruas sozinho: - Eu tenho medo de meu pai. A reação do homem não podia ser outra senão de espanto. Após segundos calado, ofereceu um lar à pobre criança.
A resposta veio com um sonoro golpe de compaixão: - Ainda que eu tenha medo de meu pai, tenho que voltar à minha casa e proteger minha mãe.

4 comentários:

Anônimo disse...

Quem é o autor do texto? Maravilhoso!

Glauber Canovas disse...

Olá, Yasmine, como vai? Muito obrigado pela visita! Com exceção de apenas um texto (Para o escritor), que trata-se de uma singela homenagem a mim, todos os demais são textos criados por mim!

Apareça!

bj.

mikaelly disse...

um otimo texto parabens para quem fez ele

Glauber Canovas disse...

Olá, Mikaelly!
Obrigado pela mensagem e pela visita! ;)

Abs