terça-feira, 26 de junho de 2007

Silencioso perdão

Participação: Kelly Passos
Felicidade, carinho, gratidão e paciência, sentimentos os quais eram ausentes em Celso. Homem de 38 anos pai de dois filhos, Luana de 13 e Leonardo de 9 anos. Casado há quatorze anos com Elenita, de 34. Celso levava uma vida de maneira desleixada. Com uma posição financeira estável, mas uma forma de viver espalhafatosa e bastante rude. Celso era muito impaciente com os filhos, não demonstrava carinho, muito menos gratidão pela esposa, que cuidava tão bem da família, Celso não demonstrava felicidade. Era diretor de uma indústria de produtos químicos. Tinha muitas incumbências, as quais tomavam muito seu tempo, talvez por isso fosse tão nervoso. Elenita ao contrário, era uma jovem bastante serena. Zelava pela família de tal forma, que mesmo com a intolerância do esposo, propagava uma paz sem igual. Para satisfazer uma vontade do marido, abandonou o emprego e se limitou apenas em ser uma dona-de-casa. O que não fazia de Elenita uma mulher submissa ou quem sabe, tola. Certa noite, Celso e Elenita discutiam aos berros na sala, gritos e ofensas por parte de Celso, eram constantes naquele ambiente, No quarto ao lado, as crianças dormiam ou, pelo menos, tentavam dormir. Em meio aquela banal discussão, Celso acabou ficando muito nervoso, chegando ao seu limite e por fim excedeu-se... Acertou Elenita com forte murro no peito e a frágil mulher perdeu o ar, em seguida caiu no chão desmaiando... O arrependimento veio súbito ao semblante de Celso... Ajoelhou-se chorando... Pediu perdão. Enquanto tudo isso acontecia, Leonardo espiava pela fresta da porta, as lágrimas já escorriam pelo rosto do garoto. Não se agüentando mais corre em direção à mãe e chora copiosamente em vê-la naquela situação. Questiona o pai sobre aquela atitude. Celso ainda imponderado manda o garoto calar a boca e ir deitar-se. O homem esbaforido tentava de qualquer jeito reanimar a esposa. Elenita estava desmaiada há quase cinco minutos. Então, Celso ligou para a emergência do hospital mais próximo. Já no quarto Leonardo conta em detalhes à irmã o que tinha visto. Luana não pensou duas vezes, correu para a sala mesmo com o irmão tentando contê-la, Léo temia que o pai fizesse algo à Luana. Chegando à sala a garotinha ficou trêmula e desatinou a chorar. Próxima a mãe, a garotinha perguntava o que havia acontecido. –O que você fez? O que você fez com a minha mãe?! Mas o pai, ainda fora de si, não respondia, porém tentou tranqüilizar a filha. – Calma minha filha, vai ficar tudo bem, a mamãe vai ficar boa, ela só ficou um pouco nervosa, mas logo ficará bem. Desolada, Luana chorava abraçando a mãe. A ambulância chega, os paramédicos fazem um diagnóstico superficial e aceleram o procedimento de remanejamento da mulher. Há quase 40 minutos e Elenita ao menos dava sinal de melhora. As crianças acompanharam na ambulância e Celso seguia em seu carro. No caminho, Léo segurava a mão da mãe – Vai dar tudo certo mamãe! Vai dar tudo certo! Neste momento, neste exato momento, alguns pensamentos surgiam na cabeça de Celso, algumas imagens floresciam na mente, o que deixava inquieto e cada vez mais perturbado. – Ai meu Deus, não pode ser, não pode ser. A ambulância chegou ao hospital e Elenita foi prontamente atendida pelos médicos. Ela já ficava inconsciente quando recebeu o primeiro choque desfribilador. No segundo, Elenita voltou à consciência e ergueu a cabeça para ver o que estava acontecendo, mas o hematoma formado em seu peito não deixou ela fazer muita força. Enquanto isso, Celso não sabia como parar de se lamentar. Olhava para as crianças apavoradas e chorava copiosamente às vezes de medo, outra por vergonha do desatino. Logo então, a enfermeira confortou as crianças e Celso e comunicou que Elenita havia voltado do desmaio, mas precisaria ficar em observação para fazer alguns exames cardiológicos. Mais tarde, Luana e Leonardo observavam a mãe que dormia quando Celso entrou cabisbaixo e pediu para as crianças saírem do quarto. Elenita acordou com um toque em seu rosto e, ao ver Celso, pôs-se a lacrimejar, mostrando certo receio de estarem somente os dois no recinto. Celso também começou a chorar de maneira desesperada e começou a implorar desculpas, se dizendo arrependido. Disse que já havia sido levado à delegacia para prestar depoimento e que mais tarde um policial viria falar com ela. Também argumentou que se ela quisesse processá-lo, seria compreensível, mas ele não queria romper o casamento e gostaria de ter uma nova chance com a família. E Elenita permanecia calada, apenas chorando. Dois dias depois, Elenita teve alta. O casal decidiria os rumos quando ela fosse para a casa. Celso não havia trabalhado desde o episódio e estava preparado para implorar sua permanência na vida da família. O momento da conversa chegou. Elenita deitou-se na cama e ficou olhando para Celso, sentado à sua frente. Celso começou o diálogo dizendo o quanto ele a amava: “Lenita, como pude ser tão rude, como pude esquecer que sou o homem mais feliz do mundo com você?”. A mulher apenas fitava-o enquanto, entre choros e soluços, Celso repetia suas frases de arrependimento. “Por favor, Lenita, não me olhe assim, não congele meu coração com tanta frieza, você que sempre foi compreensível, por favor, aceite meu pedido de desculpas”. Elenita não falava nada. Nem quando Celso deitou-se sobre sua barriga, Elenita teve alguma reação. As crianças estavam curtindo o período de férias e Celso preparava uma omelete para elas quando Elenita desceu até a cozinha. Sua chegada causou um silêncio maior do que já estava. Luana e Leonardo acompanhavam os passos da mãe e Celso a olhava receoso, esperando a primeira ação das duas últimas semanas. Elenita sentou-se ao lado das crianças e não disse uma palavra, mas Celso subentendeu que ela interessava-se pela omelete. Depois de uma troca de olhar com as crianças, Celso com o sorriso estampado ao rosto sentou-se na mesa e decidiu servi-la. E o almoço decorreu calado.

2 comentários:

Glauber Canovas disse...

Humm gostei do resultado, farei outras vezes. O melhor de tudo é perceber que cada ser humano pensa de maneira bastante constrastada. Uns foram mais maldosos, outros nem tanto, outros ja optaram por dar um final feliz (é o caso deste final). Bom, fiquei feliz pelo resultado. Parece algo simplório, mas para mim tem um significado importante. Obrigado aqueles que colaboram comigo.

Anônimo disse...

Realmente um texto que nos leva a refletir sobre as diversas opiniões possíveis para um final. Uma idéia realmente atrativa! Gostei muito e pretendo participar futuramente já que acredito em outros textos no mesmo estilo por este ter se mostrado imensamente interessante em sua essencia. Parabéns!