sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Ser imperfeito

Por Glauber Canovas Tonico era um garoto igual aos demais de sua vila, pelo menos no aspecto físico. Porém tinha uma peculiaridade, era conservador ao extremo. Na verdade se tratava de um indivíduo pacato. Podíamos pensar que isso seria seu comportamento, sua genética talvez. Mas o que chamava atenção era a forma como observava os movimentos ao seu redor, chegava a ser misterioso. Tonico além de muito querido pela família, parecia, às vezes, ser super protegido. Não era agitado, brincalhão ou arteiro como os meninos de sua idade normalmente são. Um certo dia estava ele caminhando pela vizinhança, indo ou vindo de suas atividades corriqueiras - escola, xadrez, Tonico era um ótimo jogador de xadrez, enfim, cruzou com Márcio seu vizinho que o cumprimentou, o pacífico garoto balançou a cabeça devolvendo com um gesto. Por ser tão quieto não fazia amigos, raramente estava acompanhado. Algumas pessoas da vila chegavam a ficar com pena do pobre rapaz, mas era o seu jeito, o que se podia fazer? Os anos foram se passando e Tonico continuava o mesmo, quieto. A felicidade parecia ser ausente naquele jovem. Olívia, uma linda loirinha que morava em frente sua casa e o viu crescer daquele jeito se encheu de coragem e foi falar com ele, de repente procurar saber do garoto qual era seu problema, se é que existia um: - Olá Tonico! Disse Olívia. Mas Tonico deu de ombros e não respondeu. – Bom, eu me chamo Olívia, talvez você já tenha me visto algumas vezes. Acontece que eu sempre quis ser sua amiga, mas nunca se quer te vi acompanhado de um menino, quanto mais de uma menina. Rapidamente a pequena garota percebe que Tonico não está a entender absolutamente nada. – Tonico, estou falando com você! Por quê não me responde? Por quê não tem amigos? E mais uma vez o rapaz mostrou indiferença. Por um instante Olívia se sentiu ofendida: - Vim falar com você porque sempre achei que precisasse de alguém que não fosse de sua família, uma companhia diferente, mas já vi que se trata de uma opção mesmo. A garota parecia inconformada com a atitude de Tonico, que continuava parado quieto e olhando, como sempre de forma examinadora. Olívia foi embora resmungando... e Tonico por sua vez, tímido que só vendo, regulou seu aparelho auricular e continuou a andar. “O egoísmo dos homens não faz perceber que do outro lado pode haver um problema ainda maior”.

6 comentários:

Anônimo disse...

incrível! Ninguém se atentava que por trás da timidez de Tonico havia um problema mais sério. Veja como nós, seres humanos, somos. Só vemos o que realmente queremos ver.
Amigo Glauber, Obrigado pela sua visita e pela maravilha de texto, sutil, envolvente e que traz à tona um problema essencialmente humano.
Abraços. Boa semana.
http://napontadolapis.zip.net
http://dulcineia.blogspot.com

Anônimo disse...

P.S - também escrevo sobre o dia-a-dia de todos nós. Tenho um foto centrado no cotidiano. E estou postando uma minissérie DULCINÉIA,uma história feita de episódios. Se vc tiver tempo e quiser conhecer.
Abraços.

Elizeu disse...

Muito bom. Cada um de nós tem seu "aparelho auricular" não percebido por ninguém e que acaba, de certa forma, determinando o julgamento que as pessoas fazem de nós. Parabéns!!

Marcio Brigo disse...

ENGRAÇADO, ACABEI DE VOLTAR DO OTORRINO. FUI LÁ PORQUE AS PESSOAS ESTÃO DIZENDO QUE EU VIVO GRITANDO, BOBAGEM, ELAS É QUE ESTÃO FALANDO BAIXO. DEPOIS DE UM HORA LÁ RESOLVI IR EMBORA, O MÉDICO FALAVA TÃO BAIXO QUE EU NÃO CONSEGUIA OUVIR NADA...rsrsrs
Sabe como é perco o amigo. mas não a piada.
Pimenta!
Será que Tonico precisava da caridade? Ou de alguem que o percebesse como individuo. Então o problema, não foi o gesto da garota. E sim uma balissima conversa entre uma cega e um surdo. Abraços.

Anônimo disse...

oi amigo tudo bem????

Anônimo disse...

Diariamente percebo que cada ser humano (se é que todos podem ser chamados assim) se mostra cada vez mais preocupado com seus problemas intímos, até mesmo qdo se dizem querer "ajudar" outros que julgam menos favorecidos seja na vida finaceira ou pessoal. Porém não percebe que muitas vezes essa ajuda é superficial, e está longe de ser algo realmente feito com boas intenções. Devemos nos manter sempre atentos para que pessoas portando aparelhos auriculares não passem por nós no trabalho, no convívio familiar ou onde quer que seja, sem nos darmos conta disso.